domingo, 12 de outubro de 2014

Sobre brigas, xingamentos, tucanos e estrelas vermelhas

Você briga, briga, briga, briga, e briga mais um pouco. Daí você fica cansado e xinga. Depois briga, briga e briga. E xinga. E briga. E xinga. E diz que discorda, mas discorda brigando e xingando. Todos nós (sim, primeira pessoa do plural) estamos chegando a esse ponto. E pelo seguinte motivo:
Nos últimos meses ou você escolhe o tucano, ou escolhe a estrela vermelha, e ai de você se não escolher o mesmo que eu. Vou encher suas redes sociais de argumentos e ofensas à sua escolha, sejam reais ou não. Vou encher seu saco até você implorar para que eu pare, ou me bloqueie - coisa que na década de 2010 já é pior do que qualquer vingança. Vou começar a pegar no seu pé e transformar todo e qualquer assunto em algo que remeta ao fatídico domingo em que vamos apertar alguns botões e um deles é verde. Nossa, como assim você apoia o candidato verde, meu sobrinho? Tem que votar naquele candidato aqui, aquele mesmo que você tanto odeia. Vou te criticar por dizer que apoia uma coisa ou outra mesmo que você não tenha dito isso para atingir quem é contra. E não me venha com argumentos do tipo "mas eu só queria dizer que apoio, sequer motivos para isso eu coloquei. Não quis te provocar" SIM VOCÊ QUIS ME PROVOCAR PORQUE EU APOIO QUEM É DO LADO CONTRÁRIO POR CAUSA DISSO DAQUILO E DESSAS OUTRAS COISINHAS. E isso tem dos dois lados, mas quem se importa? Tretar no Facebook tá na moda, ou algo assim? E aí vai chegar um ponto que eu vou transparecer isso. O que era para ser no mínimo ao contrário, não é: as brigas começam aqui nas internets e terminam na vida real. Estamos no sofá falando de acne e da formiga que não tinha uma das pernas e de repente estamos falando que isso é culpa de uma coisa ou de outra que de repente termina num "você vai votar nessa pessoa mesmo? você não pode, porque..."
Ah, como aprendemos a ser idiotas, ou para falar algo menos forte, um bando de sem noção mesmo, e como aprendemos a soltar tudo o que vem à nossa cabeça sem ao menos pensar em para quem estamos falando isso. Se pensar bem, a gente sempre foi assim, desde sempre, com eleição, sem eleição, com isso ou aquilo. No fundo, a gente se ama, no fundo, a gente tem opiniões diferentes, no fundo, a gente odeia quem tem ódio e preconceito e no fundo quem tem ódio e preconceito não merece ser deixado em paz nas redes sociais, na verdade, merece punição mesmo. Mas que não tem, vamos com calma né, ou não. Ai, quer saber, não sei de mais nada. Tchaus.


sábado, 23 de agosto de 2014

Música entre parênteses, na língua da esperança

Você já pensou e ouviu uma música que não tem letra, mas é cantada numa língua inexistente e sem sentido gramatical? Você já pensou em um álbum inteiro só de músicas assim e que conseguisse transmitir algo? Um álbum sem nome, de músicas sem nome, sem lera, num conjunto de instrumento e voz que ressoam sentimentos que se despertam, pouco a pouco, dentro de nós mesmos, como algo que sempre esteve ali, mas a gente nunca soube. Sim, existe.
             O dia era 28 de outubro de 2002. Naquele dia o mundo conheceu a mais nova pérola dos islandeses do Sigur Rós. O álbum "( )". Isso mesmo, um parêntese que abre e outro que fecha, demonstrando que o trabalho simplesmente não tem nome. Mas vamos voltar um pouquinho mais. Sigur Rós é um nome em língua islandesa que significa rosa da vitória. A banda surgiu em 1994 lá nas distantes e geladas terras da Islândia e três anos depois lançou seu primeiro trabalho, "Von" (Esperança). Um clima tenso, ao mesmo tempo épico e de extrema profundidade, foi o ponto de partida para o trabalho que viria a ser lançado dois anos depois. Em 1999, "Ágætis byrjun" (Um bom começo), foi ao menos e definitivamente um bom começo para a banda, ao menos no que se refere à forma com que o quarteto da terra do gelo impressionou o mercado musical mundo afora. Não é a toa que músicas como Svefn-g-englar ainda são uma das mais lembradas, não só do Sigur Rós, como de toda uma legião do gênero post-rock.
E aí chegamos então ao século XXI. Era hora de Jónsi, Georg, Orri e Kjartan mostrarem mais um pouco do que eram capazes. E foi aí que surgiu o "( )". Você pode chamar de parênteses, álbum sem título, seja lá no nome que queira dar. A intenção da banda não era trazer um trabalho pronto, cheio de nomes e letras prontas, de músicas com um significado único que não tem a intenção de mudar. A música no "( )" é sem pretensão, sem boa nem má intenção, sem vontade de grudar, ela é simplesmente música, e cabe a quem ouve sentir o que quiser sentir de cada faixa que, do fundo da junção de melodia e sensibilidade, quase que representa os aspectos da vida que todos passamos: otimismo, tristeza, melancolia, amor, felicidade, raiva...
Mas cabe a cada um de nós interpretar e sentir, do jeito que achamos melhor. Não é a toa que o encarte do álbum é composto por doze páginas em branco. E lá, quem quiser pode registras as emoções e sentimentos extraídos da música. Criar seu próprio significado para o "vonlenska", a língua da esperança, que não existe na prática, que pode representar apenas um bando de sílabas sem sentido, mas que cantada no tom quase angelical da voz de Jónsi, junto com a melodia, o ritmo e a sensibilidade, cria um universo único.
“( )" não é um álbum para ouvir enquanto faz outra atividade, assim, para passar o tempo e simplesmente para isso. As músicas se completam, e ao mesmo tempo são únicas. De "untitled 1" a "untitled 8", são como um grande ciclo da vida, que do início até o fim, tem seus caminhos, suas dificuldades. É um álbum a ser explorado por quem ouve, e, mesmo que soe estranho no começo, para quem quer conhecer Sigur Rós, é uma incrível descoberta.






sábado, 15 de março de 2014

Enchendo Linguiça: O caso da atriz no ônibus é o caso de você no ônibus

tá "vazio"


Existem coisas por aí que não dá pra entender. Na verdade até que dá. O que é entristecedor é o porquê de a gente justamente entender o que nosso próprio julgamento diz que não entende, afinal, não era para fazer sentido.
Muita gente com acesso a internet no Brasil leu algo a respeito da atriz Lucélia Santos andando de ônibus no Rio de Janeiro. Ela foi fotografada em pé, num ônibus lotado, e a imagem publicada por uma fã saiu no jornal Extra, e foi o mais novo alvo de piadas de péssimo gosto saídas dos dedos que digitavam especulações de todo tipo sobre a vida pessoal e situação financeira da atriz, ou até pelo simples fato de ela ser famosa e assim "não poder estar ali".
É claro que depois dessa chuva de comentários, Lucélia Santos soltou o verbo em seu Twitter: 

"O Brasil é o único país que conheço em que andar de ônibus é politicamente incorreto!!!!!! Vai entender... Isso porque os ônibus aqui e transportes coletivos, de um modo geral, são precários e ordinários, o que mostra total desrespeito à população! Em qualquer país civilizado, educado e organizado, é o contrário. As pessoas dão prioridade a transportes coletivos para proteger o meio ambiente. Os governos deveriam investir em transportes decentes para a população, com conforto e dignidade, e depois pretender fazer discursos de um mundo. A imprensa deveria usar sua inteligência para divulgar campanhas para os transportes públicos coletivos de primeira grandeza. Terminando: O Brasil deveria ler mais, se instruir mais, desejar mais e sair da burrice de consumo idiota e descartável que lhe dá carros."

Então, o desabafo dela só retratou mais do pensamento comum que está aí, por todos os lados. Por que andar de ônibus é errado, motivo de vergonha pra muita gente? Pegar o ônibus, pagar uma passagem para fazer um percurso de um lugar a outro não é motivo de vergonha, não é palhaçada. Quando a gente usa o transporte coletivo, estamos usufruindo de um direito que nos é concedido.
Infelizmente, um direito muito mal concedido, mas cabe a nós correr atrás, exigir daqueles que tem o dever de cuidar disso uma solução melhor, para que as pessoas se sintam incentivadas a deixar os carros em casa, a deixar de pagar muito mais por gasolina simplesmente porque vale a pena entrar num veículo limpo, seguro e que abrange os pontos da cidade como um todo, para assim chegar ao destino sem problemas.
Sim, os governos e as empresas que fazem o transporte são desrespeitosos. Sim, eles só querem saber do lucro que vem disso e para isso não se importam em transformar os ônibus em latas de sardinhas humanas, cheias de defeitos e que podem trazer riscos até à saúde de quem está dentro. E isso acontece em quase todas as cidades que tem transporte público no Brasil. É ônibus sucateado, é metrô dando problema, são 200 pessoas num veículo que cabem 70, é falta de investimento em vias exclusivas para agilizar o transporte, e por aí vai. E quando as pessoas se juntam para protestar, exigir uma melhora em todo o sistema do qual nós temos direito, vem o julgamento, vem parte da imprensa, vem a repressão, vem as empresas e os governos que querem mostrar, a todo e qualquer custo, "quem é que manda na bagaça".
E quem paga o pato? É a população, que só queria entrar num ônibus e ir para o lugar que quer, que precisa ir, sem se preocupar com precariedade, preços abusivos de passagem, lotação excessiva, violência, ou qualquer dos problemas a mais que existem e que se fosse para listar aqui, você demoraria horas e horas para ler o texto.
E é por isso que o caso da atriz no ônibus é o caso de você no ônibus. Ela só estava exercendo o direito de ir e vir na cidade, da mesma forma que você tem, sem precisar ter ou usar um veículo próprio para isso. E é claro, quem sabe um dia as pessoas percebam que não precisam ter carros apenas por status, para mostrar que não precisa se enfiar num ônibus. Ou mesmo simplesmente aqueles que tem um carro por não aguentarem mais esse transporte de m*rda que temos por aqui, consigam ter mais esperança na vida. O transporte particular tem que ser uma opção bem pensada, não uma espécie de obrigação de status ou de livramento. Quem gosta, quem quer, quem tem consciência do que é ter um carro, e não quem simplesmente quer se mostrar, ou se livrar da tal da lata de sardinha humana diária.
Mas para isso acontecer, o primeiro passo é a confiança num transporte público decente. Coisa que infelizmente não está dando para ter.



sexta-feira, 14 de março de 2014

Parando pra ouvir: L A Y L A



Jose Vanders já fazia música e carreira num canto qualquer do Reino Unido quando resolveu mudar o nome de seu projeto para Layla
Alguém que não define se é pop ou se não é, meio indie/alternativa/Florence and the Machine recatada/Lorde gente fina ou algo quase que indefinida no mundo das comparações, Layla tem músicas que não são dessas que viciam, mas dessas que te fazem, do nada, sentir uma vontade louca de ouvir e passar o tempo enquanto faz qualquer outra coisa. 
A vida como Layla começou com New Year, um EP que mostrava bem o direcionamento indie-alternativo-folk que alcançou o número um no iTunes, na semana de lançamento, entre os notáveis. New Year, a faixa-título, é uma das músicas que lembram baladas melancólicas e que preenchem o trabalho como um todo. Yalda e The Only One, seguidas de Winter, You Tease (que foi música de encerramento do episódio de Natal da série Made in Chelsea) trazem uma visão bem mais "simples" do que viria a ser o single título de seu segundo EP: Yellow Circles.


Yellow Circles, por sua vez, já traz uma visão bastante mais aberta, do ponto de vista pop. Os vocais de Jose caem bem nas batidas mais ritmadas, e servem até mesmo de fundo, desde o início ao final, parece que a voz dela está lá, envolvendo a música, lá longe. E com certeza, talvez não chega ao poto de ser viciante, mas não seria estranho vir uma vontade, do nada, de ouvir Yellow Circles, da mesma forma que pode acontecer com as outras músicas de Layla, só que mais intenso.

 
Claro, isso se você gostar, já que no mesmo caminho das cantoras "similares" (Florence, Fiona Apple, Lorde, outras por aí, lembrando que a similaridade nesse caso deve ter cuidado quando pedir licença para estar neste texto) existe a galera dos que gostam e a galera dos que odeiam.