sábado, 15 de março de 2014

Enchendo Linguiça: O caso da atriz no ônibus é o caso de você no ônibus

tá "vazio"


Existem coisas por aí que não dá pra entender. Na verdade até que dá. O que é entristecedor é o porquê de a gente justamente entender o que nosso próprio julgamento diz que não entende, afinal, não era para fazer sentido.
Muita gente com acesso a internet no Brasil leu algo a respeito da atriz Lucélia Santos andando de ônibus no Rio de Janeiro. Ela foi fotografada em pé, num ônibus lotado, e a imagem publicada por uma fã saiu no jornal Extra, e foi o mais novo alvo de piadas de péssimo gosto saídas dos dedos que digitavam especulações de todo tipo sobre a vida pessoal e situação financeira da atriz, ou até pelo simples fato de ela ser famosa e assim "não poder estar ali".
É claro que depois dessa chuva de comentários, Lucélia Santos soltou o verbo em seu Twitter: 

"O Brasil é o único país que conheço em que andar de ônibus é politicamente incorreto!!!!!! Vai entender... Isso porque os ônibus aqui e transportes coletivos, de um modo geral, são precários e ordinários, o que mostra total desrespeito à população! Em qualquer país civilizado, educado e organizado, é o contrário. As pessoas dão prioridade a transportes coletivos para proteger o meio ambiente. Os governos deveriam investir em transportes decentes para a população, com conforto e dignidade, e depois pretender fazer discursos de um mundo. A imprensa deveria usar sua inteligência para divulgar campanhas para os transportes públicos coletivos de primeira grandeza. Terminando: O Brasil deveria ler mais, se instruir mais, desejar mais e sair da burrice de consumo idiota e descartável que lhe dá carros."

Então, o desabafo dela só retratou mais do pensamento comum que está aí, por todos os lados. Por que andar de ônibus é errado, motivo de vergonha pra muita gente? Pegar o ônibus, pagar uma passagem para fazer um percurso de um lugar a outro não é motivo de vergonha, não é palhaçada. Quando a gente usa o transporte coletivo, estamos usufruindo de um direito que nos é concedido.
Infelizmente, um direito muito mal concedido, mas cabe a nós correr atrás, exigir daqueles que tem o dever de cuidar disso uma solução melhor, para que as pessoas se sintam incentivadas a deixar os carros em casa, a deixar de pagar muito mais por gasolina simplesmente porque vale a pena entrar num veículo limpo, seguro e que abrange os pontos da cidade como um todo, para assim chegar ao destino sem problemas.
Sim, os governos e as empresas que fazem o transporte são desrespeitosos. Sim, eles só querem saber do lucro que vem disso e para isso não se importam em transformar os ônibus em latas de sardinhas humanas, cheias de defeitos e que podem trazer riscos até à saúde de quem está dentro. E isso acontece em quase todas as cidades que tem transporte público no Brasil. É ônibus sucateado, é metrô dando problema, são 200 pessoas num veículo que cabem 70, é falta de investimento em vias exclusivas para agilizar o transporte, e por aí vai. E quando as pessoas se juntam para protestar, exigir uma melhora em todo o sistema do qual nós temos direito, vem o julgamento, vem parte da imprensa, vem a repressão, vem as empresas e os governos que querem mostrar, a todo e qualquer custo, "quem é que manda na bagaça".
E quem paga o pato? É a população, que só queria entrar num ônibus e ir para o lugar que quer, que precisa ir, sem se preocupar com precariedade, preços abusivos de passagem, lotação excessiva, violência, ou qualquer dos problemas a mais que existem e que se fosse para listar aqui, você demoraria horas e horas para ler o texto.
E é por isso que o caso da atriz no ônibus é o caso de você no ônibus. Ela só estava exercendo o direito de ir e vir na cidade, da mesma forma que você tem, sem precisar ter ou usar um veículo próprio para isso. E é claro, quem sabe um dia as pessoas percebam que não precisam ter carros apenas por status, para mostrar que não precisa se enfiar num ônibus. Ou mesmo simplesmente aqueles que tem um carro por não aguentarem mais esse transporte de m*rda que temos por aqui, consigam ter mais esperança na vida. O transporte particular tem que ser uma opção bem pensada, não uma espécie de obrigação de status ou de livramento. Quem gosta, quem quer, quem tem consciência do que é ter um carro, e não quem simplesmente quer se mostrar, ou se livrar da tal da lata de sardinha humana diária.
Mas para isso acontecer, o primeiro passo é a confiança num transporte público decente. Coisa que infelizmente não está dando para ter.



sexta-feira, 14 de março de 2014

Parando pra ouvir: L A Y L A



Jose Vanders já fazia música e carreira num canto qualquer do Reino Unido quando resolveu mudar o nome de seu projeto para Layla
Alguém que não define se é pop ou se não é, meio indie/alternativa/Florence and the Machine recatada/Lorde gente fina ou algo quase que indefinida no mundo das comparações, Layla tem músicas que não são dessas que viciam, mas dessas que te fazem, do nada, sentir uma vontade louca de ouvir e passar o tempo enquanto faz qualquer outra coisa. 
A vida como Layla começou com New Year, um EP que mostrava bem o direcionamento indie-alternativo-folk que alcançou o número um no iTunes, na semana de lançamento, entre os notáveis. New Year, a faixa-título, é uma das músicas que lembram baladas melancólicas e que preenchem o trabalho como um todo. Yalda e The Only One, seguidas de Winter, You Tease (que foi música de encerramento do episódio de Natal da série Made in Chelsea) trazem uma visão bem mais "simples" do que viria a ser o single título de seu segundo EP: Yellow Circles.


Yellow Circles, por sua vez, já traz uma visão bastante mais aberta, do ponto de vista pop. Os vocais de Jose caem bem nas batidas mais ritmadas, e servem até mesmo de fundo, desde o início ao final, parece que a voz dela está lá, envolvendo a música, lá longe. E com certeza, talvez não chega ao poto de ser viciante, mas não seria estranho vir uma vontade, do nada, de ouvir Yellow Circles, da mesma forma que pode acontecer com as outras músicas de Layla, só que mais intenso.

 
Claro, isso se você gostar, já que no mesmo caminho das cantoras "similares" (Florence, Fiona Apple, Lorde, outras por aí, lembrando que a similaridade nesse caso deve ter cuidado quando pedir licença para estar neste texto) existe a galera dos que gostam e a galera dos que odeiam.