Você já
pensou e ouviu uma música que não tem letra, mas é cantada numa língua
inexistente e sem sentido gramatical? Você já pensou em um álbum inteiro só de
músicas assim e que conseguisse transmitir algo? Um álbum sem nome, de músicas
sem nome, sem lera, num conjunto de instrumento e voz que ressoam sentimentos
que se despertam, pouco a pouco, dentro de nós mesmos, como algo que sempre
esteve ali, mas a gente nunca soube. Sim, existe.
O dia era 28 de outubro de 2002. Naquele dia o mundo conheceu a
mais nova pérola dos islandeses do Sigur Rós. O álbum "( )". Isso
mesmo, um parêntese que abre e outro que fecha, demonstrando que o trabalho
simplesmente não tem nome. Mas vamos voltar um pouquinho mais. Sigur Rós é um
nome em língua islandesa que significa rosa
da vitória. A banda surgiu em
1994 lá nas distantes e geladas terras da Islândia
e três anos depois lançou seu primeiro trabalho, "Von" (Esperança).
Um clima tenso, ao mesmo tempo épico e de extrema profundidade, foi o ponto de
partida para o trabalho que viria a ser lançado dois anos depois. Em
1999, "Ágætis byrjun" (Um bom
começo), foi ao menos e definitivamente um bom começo para a banda, ao menos no
que se refere à forma com que o quarteto da terra do gelo impressionou o
mercado musical mundo afora. Não é a toa que músicas como Svefn-g-englar ainda
são uma das mais lembradas, não só do Sigur Rós, como de toda uma legião do
gênero post-rock.
E aí chegamos então ao século
XXI. Era hora de Jónsi, Georg, Orri e Kjartan mostrarem mais um pouco do que
eram capazes. E foi aí que surgiu o "( )". Você pode chamar de
parênteses, álbum sem título, seja lá no nome que queira dar. A intenção da
banda não era trazer um trabalho pronto, cheio de nomes e letras prontas, de
músicas com um significado único que não tem a intenção de mudar. A música no
"( )" é sem pretensão, sem boa nem má intenção, sem vontade de
grudar, ela é simplesmente música, e cabe a quem ouve sentir o que quiser sentir
de cada faixa que, do fundo da junção de melodia e sensibilidade, quase que
representa os aspectos da vida que todos passamos: otimismo, tristeza,
melancolia, amor, felicidade, raiva...
Mas cabe a cada um de nós
interpretar e sentir, do jeito que achamos melhor. Não é a toa que o encarte do
álbum é composto por doze páginas em branco. E lá, quem quiser pode registras
as emoções e sentimentos extraídos da música. Criar seu próprio significado
para o "vonlenska", a língua da esperança, que não existe na prática,
que pode representar apenas um bando de sílabas sem sentido, mas que cantada no
tom quase angelical da voz de Jónsi, junto com a melodia, o ritmo e a
sensibilidade, cria um universo único.
“( )" não é um álbum para
ouvir enquanto faz outra atividade, assim, para passar o tempo e simplesmente
para isso. As músicas se completam, e ao mesmo tempo são únicas. De
"untitled 1" a "untitled 8", são como um grande ciclo da
vida, que do início até o fim, tem seus caminhos, suas dificuldades. É um álbum
a ser explorado por quem ouve, e, mesmo que soe estranho no começo, para quem
quer conhecer Sigur Rós, é uma incrível descoberta.