terça-feira, 4 de setembro de 2012

O mais enorme de todos os crimes

   Vinha caminhando pela rua antiga, os passos não estavam mais em sincronia e a rua estava toda destruída, com o mato nascendo pelas entranhas de suas rachaduras. Cabisbaixo, seus olhos baixos e a lágrima que saía tímida de um deles denunciava que as coisas não iam bem naquele lado do mundo. Não almejava olhar para frente, não desejava apreciar a paisagem de grama, capim, e nada mais, que simplesmente enfeitavam e embelezavam tudo o que se pudesse chamar de natureza naquele lado do mundo. Andava devagar. Velocidade seria burrice, voltou rapidamente à infância, quando as professorinhas na escola diziam que é devagar que se vai longe.
   Mas ele não queria ir perto, não queria ir longe. Estava arrependido, estava mal. Nunca tinha se sentido tão daquela maneira quando se viu solto de tudo e todos que mais amava da forma mais cruel possível. E a culpa era dele mesmo. Como poderia ter sido tão tolo? Não sabia. Olhava apenas para o chão próximo aos seus pés que já andavam desconexos por causa da falta de preocupação com nada a não ser a culpa maior que sentia em estar daquele jeito: vivo. 
   E seus passos ficavam mais lentos, a visão se enturveceu. Nesse momentos vieram todos os momentos que ele deveria ter abraçado, e todos os momentos que com certeza deveria ter deixado trancados num mundo que não era daquele lado do mundo onde ele estava agora, sofrendo, com seu corpo mergulhado numa angústia completamente desconhecida, enquanto a dor daquilo que não mais conhecia o afligia durante o que os físicos chamam de lei da gravidade: a queda.
   Ele ainda estava tentando entender, mas não dava mais tempo. Sim, ele se fechou, ele cometeu o mais enorme de todos os crimes. E agora não podia voltar mais.


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